segunda-feira, 3 de setembro de 2007

REALEJOS




Até hoje eles ainda podem ser encontrados tanto em cidades do terceiro quanto do primeiro mundo, com seus pequenos órgãos portáteis movidos a manivela trazidos da Idade Média por uma máquina do tempo. Dos realejos sai uma melancólica e saudosa melodia, enquanto estes velhos senhores vêem a sorte, quase sempre para mocinhas românticas e curiosas. Alguns deles usam periquitos ou papagaios para, com seus bicos, tirarem o envelopinho onde está previsto o futuro dos consulentes.
Nas fotos, dois tocadores de realejo, um de Buenos Aires e outro de Frankfurt. O alemão, de gravata, esperava em vão que alguém o consultasse, como nos versos de Chico Buarque:
"Já vendi tanta alegria,
vendi sonhos a varejo.
Ninguém mais quer hoje em dia
acreditar no realejo.
Sua sorte, seu desejo,
ninguém mais veio tirar
Então eu vendo o realejo,
quem quer comprar?"
O argentino, na Calle Florida, apresentava a si mesmo com o seguinte verso, escrito à mão, numa folha de cartolina:
"Somos bohemios,
correcaminos,
donde la gente nos mira pasar
brotan sonrisas,
si hubo tristezas,
brotan recuerdos
de tiempos de paz."

(Sobre) vivendo em dois mundos diferentes, os dois tiveram a mesma atitude quando pedi para fotografá-los: sorriram amavelmente e posaram para a câmera. Sabiam pertencer a uma categoria de artistas de rua cada vez mais difícil de encontrar. Mas enquanto houver sonhos, o som dos realejos continuará a resistir à passagem do tempo. E espalhar sua magia nas ruas barulhentas das grandes cidades.



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