quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

GUILI, O VELHO LOBO DO MAR




Barraca de Guili em Santa Cruz de Cabrália, Bahia.
Julho de 1993.




Na barraca de praia que arrendou por algum tempo em Santa Cruz de Cabrália, sul da Bahia, Guili gostava de subir até a varanda na parte de cima, quando não havia movimento, e fazer de conta que aquela era a proa de seu navio, e ele era um velho Lobo do Mar. Uma ou mais doses de Licor de Jurubeba e algumas baforadas da boa maconha nordestina embalavam o seu devaneio. 
A viagem deste marujo começou em Buenos Aires, onde nasceu, e terminou em 16 de setembro de 1998, quando faleceu na praia do Campeche, em Florianópolis, aos 50 anos.
 Oscar Alberto Duarte, o Guili, não suportava o frio portenho. A cada inverno, entre taças de vinho Borgoña e bifes de chorizo, dividia com seus amigos o sonho de partir para sempre em busca do sol, das praias de águas tépidas, das morenas do Brasil. 
Em 1986, depois de uma temporada em Búzios, encontrou o seu paraíso tropical em Arraial da Ajuda, na época um lugarejo frequentado por hippies brasileiros e estrangeiros que buscavam um refúgio tranquilo junto à natureza, onde, como diziam, "todos os dias são domingos e todas as noites, sábados."
 Extrovertido, irreverente, raciocínio ágil e com enorme facilidade para se aproximar das pessoas, Guili rapidamente se tornou uma figura popular. Para os nativos era o gringo, companheiro sempre disposto a uma cerveja gelada e um bate-papo. 




O "consulado" de Guili, na Alameda dos Flamboyants, era também o atelier de Isabel, sua companheira
. Nesta foto de 1990, da direita para a esquerda: Isabel, Guili, Nelson, Vaci e Lais







Na colônia argentina do Arraial da Ajuda era conhecido como "el consul". Sua casa era um vaivém de conterrâneos em busca de alguma informação, conselho, companhia. Lá também tinha boa comida - Guili era um excelente cozinheiro - pinga da terra e muito som. Insaciavelmente curioso, sabia das últimas novidades musicais e estava sempre bem informado sobre os rumos da política nacional, argentina e mundial, apesar de viver numa época e num lugar onde jornais eram raros e a TV ficava limitada à Globo.
Depois de trabalhar por 10 anos como garçom, barman, cozinheiro e barraqueiro  no Arraial da Ajuda e em Santa Cruz de Cabrália, Guili se mudou para a praia do Campeche, em Florianópolis, onde morava Isabel Orsini Lobato,  sua ex-companheira, e o filho pequeno  Rodrigo,  que adorava.
Durante os dois últimos verões trabalhou como garçom num restaurante à beira da praia. Estava feliz, no seu habitat. Na baixa temporada fazia trabalhos temporários.
 Com a saúde comprometida por tantos anos de excessos, morreu dormindo, de parada cardíaca. Foi velado pelos parentes, amigos, pescadores, pedreiros e os parceiros de prosas dos fins de tarde no Bar do Pescador.





Em seu túmulo junto ao mar, no cemitério da igrejinha de
São Sebastião, em Campeche, a inscrição: 
Oscar Alberto Duarte
gringo Guili
*28.2.1948   + 16.9.1998
Viejo Lobo del Mar
Com carinho da familia


Praia do Campeche, em Florianópolis, com a ilha do Campeche ao fundo. Neste belo cenário Guili trabalhou como garçom no verão de 1998.






7 comentários:

Anônimo disse...

É!...foi!...
Un desses que só conhecendo para ter certeza de que tenha existido...se você contar não dá para acreditar mesmo...
Acrecentaria dele...un filósofo...um pensador...Sinto-me muito privilegiado pela vida de ter me cruzado com Guili.
Lindo e merecido homenagem voce rende no seu blog. Parabens e obrigado pela viagem.
Lembrou-me a tempo da data de aniversario do cara...boa lembranca!!!!...A gente se vê!
Sou Fabián, de Arraial

Clovis Heberle disse...

Fabián,
fico feliz por saber que você leu e gostou do post. Quem conheceu Guili sabe que haveria muitíssimo mais para escrever sobre ele, mas a minha intenção foi realmente prestar uma pequena homenagem a este cara que nos deixou tão cedo.
Um forte abraço
Clovis

Damiao disse...

Eu fui muito amigo de elle en esa epoca, pra mi y para muita gente foi una figura muito importante,a ultima ves que vi a elle foi en Bs As cuando foi a mia casa y como siempre pasamos un rato enesquesible como siempre que estuvimos juntos.
Siempre lembro de el, na epoca pasamos momentos muito bom y tambien muito dificiles, una figura muito querida por mi.
Sempre levare a elle en mi corazon, adore esta nota, merecido homenaje a esta figura.
Disculpa mi potugues errado, sou argentino, de los que pasabamos toudos los dias por el Consulado.
Abrazo
Damiao

Clovis Heberle disse...

Damián! Obrigado/gracias pela visita ao blog.
Tenho uma foto uma foto do "consulado", com o Guili na frente. Vou procurar e incluir no post.
Se quiseres viajar pelo Arraial dos anos 80/90 dá uma olhada no post O ARRAIAL ERA ASSIM.
Un abrazo!


Nancy disse...

Cómo esquece lo...nosso Consul .dou fé de que foi um grande sonhador contador de histórias ,um amigo.
Sou amiga até hoje de Isabel e Rodrigo.
E de vcs...bela homenagem

Anônimo disse...

Hola, soy Carolina hija de Guili, muy bonitas palabras, un placer conocer de esas épocas de mi papá y saber que era tan querido. Muchas gracias

Clovis Heberle disse...

Hola, Carolina! Me dejaste feliz y emocionado con tu comentario. Tu papá fue un buen (y divertido) amigo mio. Un abrazo, con cariño