sexta-feira, 27 de junho de 2008

SAUDADES DO PAÍS TROPICAL



Por mim, o inverno acabaria em junho. Um mês de frio é o suficiente para matar a vontade de beber vinho tinto, comer mocotó e feijoada, colocar casacos e blusões, dormir tapado de edredons. As festas de São João mostradas pela TV, com aquele povo vestido de roupas coloridas, se divertindo em inocentes quadrilhas animadas por sanfonas, zabumbas e triângulos me dão uma saudade danada do País Tropical. Saudade do sol, do calor, dos banhos de mar, daquele povo amistoso que nos recebe como primos excêntricos, branquelas, que chegam loucos por uma cervejinha gelada, uma água de coco da fruta, um aipim frito na beira da praia.
Tá certo, o extremo sul também faz parte do Brasil. Mas no inverno ficam mais evidentes as diferenças entre as regiões que ficam abaixo e acima do paralelo 25, onde começa o estado de São Paulo. Quem está na praia da Pipa, no Rio Grande do Norte, ou do Calhau, em São Luís do Maranhão, e vê as reportagens sobre mais uma frente fria que derruba as temperaturas no sul, chega a ficar com inveja dos dos gaúchos, catarineses e paranaenses enregelados em paisagens embranquecidas pela geada. Para nordestinos e nortistas são lugares exóticos, distantes, que jamais conhecerão.
Para nós, que atravessamos junho, julho, agosto, setembro e às vezes até outubro encarangados, é bem diferente. Nosso inverno não tem nem ao menos o charme da neve. Poder esquiar em Gramado ou São Joaquim daria um toque alegre e lúdico aos meses frios. Mas, ao contrário dos suíços e dos argentinos, não temos Davos nem Bariloche. E mesmo sem neve para esquiar, os preços dos hotéis e restaurantes das cidades turísticas da Serra são tão altos quanto os das estações de esqui européias.

Nossas casas, restaurantes e locais de trabalho raramente são projetados para temperaturas abaixo de 10 graus. Os chuveiros elétricos tornam o banho um suplício. Aquecimento central e lareiras são privilégios de muito poucos. E aí, "o jeito é sentar junto ao fogão à lenha para comer pinhão e beber quentão", como repetem todos os anos as meninas do tempo nas nossas tevês.
Num desses invernos, uma repórter do jornal onde eu trabalhava foi pautada para fazer uma reportagem sobre os melhores lugares para se ir em Porto Alegre durante o inverno. Pediu dicas para a redação, logicamente pensando em restaurantes e bares aconchegantes. Minha sugestão foi o aeroporto Salgado Filho, com uma passagem para o Nordeste na mão...






Praia da Pitinga, no Arraial da Ajuda, Porto Seguro, Bahia, num dia de inverno. Temperatura mínima: 20 graus. Máxima: 30 graus. Temperatura da água do mar: 26 graus.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Clovis, belo post. Apenas diria que o Inverno, a cada ano, é mais duro de enfrentar. Quando éramos mais jovens, nem o frio assustava, se fosse preciso a gente atravessava o Guaíba a nado, devidamente calibrados, claro. Mas hoje em dia, quando se dá valor a cada dia da vida, essa estação é um duro teste de resistência. Ainda mais nos Pampas. Sempre digo que gaúcho não é habitante; é sobrevivente. E tenho uma inveja - das boas, claro - de ti que já conheces praticamente todo o Brasil. Do Nordeste, por exemplo, só visitei Natal uma vez, e rapidamente. Uma pena, pois sei o quanto estou perdendo. Correcaminos sempre, amigo.
Forte abraço.

Clovis Heberle disse...

Tens razão, Emanuel.
acredito que com os meus 58 aos (e meio) não sobreviveria a oito meses na Cordilheira dos Andes, comendo uma vez por dia (quando dava) e dormindo em qualquer canto, como eu fiz com os meus 21/22 anos.
Quantom à tua (boa) inveja, ela só se justifica em parte: já andei por boa parte do litoral brasileiro, até São Luís do Maranhão, dei uma bicada em Manaus, passei uns dias no sertão pernambuco/baiano, fiz incursões por Minas mas ainda falta muito (mesmo) para dizer que conheço todo o Brasil. Por exemplo: nunca fui a Campina Grande, nem a Foz do Iguaçu, nem ao Pantanal.
Grato por este e os outros comentários, sempre amáveis.
Um abraço