sábado, 16 de agosto de 2008

DOM PEDRO II PARA PRESIDENTE

O perfil ideal para presidente da República é o de Dom Pedro II:
preparado para exercer o poder, austero nos gastos pessoais e públicos, tolerante com os adversários e com a imprensa, excelente administrador, culto, viajante incansável, curioso insaciável
, avesso aos cerimoniais e um homem que colocou a paixão pelo Brasil e os brasileiros acima de tudo - até do seu trono. Esta é a imagem que fica do imperador do Brasil de 1840 até 1889 depois da leitura da biografia escrita por José Murilo de Carvalho e editada pela Companhia das Letras.
Para um país traumatizado por uma sucessão de governantes que colocaram seus interesses pessoais e político-partidários acima dos da nação, Pedro de Alcântara representou uma rara exceção. Só Getúlio Vargas conseguiu alcançar a mesma dimensão como estadista.
Aclamado imperador aos cinco anos de idade, após a abdicação de seu pai, que voltou para Portugal, Pedro II passou os dez anos seguintes aos cuidados de tutores que cuidaram o educaram. Órfão de mãe com um ano e de pai aos nove, dedicou-se aos estudos e ao assumir o trono, aos 15 anos, já demonstrava surpreendente habilidade política ao montar um ministério em que mesclava a experiencia com a juventude, a prudência com a ousadia. O país que herdara enfrentava rebeliões separatistas e problemas políticos, sociais e econômicos agravados por uma década de governos provisórios.
Em poucos anos, o jovem imperador pacificou a nação e organizou o governo. Sua forma de administrar é um exemplo para empresas que se dizem modernas mas que, no fundo, usam, quase sem exceção, a velha técnica do "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Como chefe de governo, reunia o ministério diariamente, ouvia os relatos dos ministros, trocava idéias com eles e, muitas vezes, acatava o ponto de vista da maioria. Definia as prioridades e deixava a execução dos projetos a cargo de cada ministro. Visitava obras, escolas e hospitais para conferir se suas diretrizes estavam sendo cumpridas.
Avesso a festas e beija-mãos, reduziu a um mínimo o seu quadro de servidores, e aplicava boa parte dos seus rendimentos em obras sociais. Sustentava cientistas e artistas com bolsas de estudos no país e no Exterior. Suas viagens aos Estados Unidos e à Europa foram custeadas com empréstimos bancários pessoais. A imprensa tinha total liberdade - para ele, os jornais eram as janelas por onde vislumbrava a realidade do país - mesmo quando o atacavam, e à sua família, da forma mais torpe. Era respeitado nos Estados Unidos e na Europa como estadista e como sábio.
Apeado do poder e expulso do país por um golpe liderado por militares, viveu modestamente, em hotéis europeus de segunda classe, até falecer, em 4 de dezembro de 1891, em Paris. Duzentas mil pessoas acompanharam o cortejo da igreja da Madeleine até a estação de trem. De lá o corpo seguiu para Portugal, onde foi enterrado. No Brasil, manifestações espontâneas de pesar tomaram as ruas, apesar da hostilidade do governo republicano, que se recusou a decretar luto oficial e nem ao menos mandou representantes ao enterro.
Mas o livro não tem apenas os aspectos positivos da biografia de Dom Pedro II. Revela suas fraquezas, seus amores fora do casamento, a paixão pela condessa de Barral (que durou toda a vida), a condescendência para com a escravidão - à qual se opunha, mas não teve apoio político e coragem de extinguir -, e a sua postura impiedosa na guerra contra o Paraguai. Foi dele a decisão de massacrar o povo paraguaio até o quase extermínio, mesmo depois de Solano Lopez estar militarmente vencido.
Seus acertos, no entanto, superaram em muito os erros. E os governos que o sucederam, marcados pela politicagem, as ambições pessoais e a falta de patriotismo comprovaram a importância que os quase 49 anos do segundo reinado tiveram para o Brasil.

"O problema do Brasil não é a República nem a Monarquia. É a oligarquia absoluta".
Machado de Assis


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