quarta-feira, 8 de abril de 2009

CAUSOS DE REDAÇÃO

As novas tecnologias causam um misto de fascínio e temor nas redações ao serem adotadas. Depois de assimiladas, o que antes causava pavor se torna corriqueiro. Quando Zero Hora abandonou as máquinas de escrever, as laudas de papel, a barulheira e a fumaça de mil cigarros, houve um cronista que abandonou o treinamento para o uso dos computadores, com a justificativa de que jamais se adaptaria a eles. Continuou redigindo suas crônicas na máquina de escrever, em casa. Outro estranhou o silêncio da nova redação, olhou para os lados e bradou: "Isto aqui é o IML na hora do pique!".

Na década de 80, quando o departamento de jornalismo da RBSTV começou a fazer transmissões ao vivo, houve uma justificada ansiedade dos repórteres, acostumados a gravar seus boletins e repetí-los até que ficassem perfeitos. A ansiedade podia se transformar em pânico, de acordo com o grau de autocontrole de cada profissional.
O Cpers fazia uma assembléia geral no ginásio Gigantinho, e uma repórter foi escalada para entrar ao vivo no Jornal do Almoço. Era o seu primeiro boletim, e seus nervos estavam à flor da pele. Eu era chefe de reportagem e dialogava com ela pelo rádio tentando tranquilizá-la. Sugeria que respirasse fundo, fizesse de conta de que aquele boletim era gravado, tomasse um copo d'água. Mas à medida que o momento de entrar no ar se aproximava ela ficava mais nervosa.
O chefe de redação estava passando por alí e, depois de ouvir alguns minutos do meu diálogo infrutífero, tomou o microfone das minhas mãos e berrou: "Te acalma, pôrra".
Foi o santo remédio...

Outro episódio aconteceu na Zero Hora, num sábado em que eu era responsável pela redação. A rádio Gaúcha recém havia alugado um helicóptero para fazer seus boletins sobre trânsito, eventualmente compartilhado por equipes do jornal e da TV. Alguns fotógrafos adoraram a possibilidade de colher imagens lá de cima.

Naquele dia a OSPA, Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, fazia um concerto ao ar livre junto à Usina do Gasômetro e a fotógrafa sugeriu fotos aéreas, para a capa da edição de domingo. Também deslumbrado com a novidade, topei na hora. Consegui o helicóptero e reservei espaço para a foto.
Mas foi um vexame. Imaginem a cena: no meio do concerto, um helicóptero identificado com a sigla da empresa começou a sobrevoar a orquestra e o público, cada vez mais baixo. O barulho das hélices abafava o som dos instrumentos, e o vento produzido por elas fazia voar as partituras. O público, atônito, gritava "fora, fora" e fazia gestos para o aparelho de afastar, enquanto a fotógrafa, perfeccionista, buscava o melhor ângulo para a imagem da capa. Quando o piloto se deu conta da babada, o estrago já estava feito.
Não fiquei sabendo se o concerto recomeçou ou não. Só sei que a capa não teve a foto aérea.











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