domingo, 28 de março de 2010

COLONO, POR QUE NÃO?

Um colono de Nova Prata ( foto de Arlindo Itacir Battistel)

Na minha infância, em Três Passos (uma cidade do Noroeste do Rio Grande do Sul, perto da fronteira com a Argentina), meu pai tinha uma daquelas casas de comércio que vendiam de tudo, de tecidos a alimentos. Os colonos do interior do município chegavam em velhos caminhões ou carroças para entregarem o que produziam e fazerem as suas compras, e depois ficavam no balcão, bebendo e dando gargalhadas a cada piada, a maioria contada em alemão.
Sempre me pareceram pessoas toscas, fadadas ao trabalho de sol a sol pela sobrevivência, vivendo em condições precárias.
Minha única experiência na lavoura, aos dez anos de idade, foi traumática: ao plantar aipim - no quintal da nossa casa cultivávamos laranjas, maçãs, moranguinhos, uvas, tomates, alface e sei lá mais quantas frutas, hortaliças e verduras - o cabo da enxada me deu calos nas mãos. Os calos infeccionaram e fui levado ao hospital para uma cirurgia dolorosa. Nunca mais peguei numa enxada...
Com o passar do tempo, o preconceito deu lugar à admiração por estas pessoas que vivem de plantar, colher, ordenhar, criar animais. Mas quem me explicou didaticamente a função social dos colonos foi o agrônomo e ecologista José Lutzenberger. Ele me chamou atenção para o fato de eles serem ecologicamente equilibrados. Produzem o que necessitam para se alimentar, e vendem o excedente para comprar o que lhes faz falta. Pouco ou nada sobra para supérfluos.
Vivem em harmonia com a natureza: o esterco dos animais vira adubo para a lavoura. Uma casa típica de um colono tem sempre uma ou mais vacas leiteiras, porcos e galinhas, hortas de verduras e hortaliças, árvores frutíferas.

Mas eles não vivem na Idade da Pedra. Na garagem há um carrinho ou uma camionete com muita quilometragem - as picapes zero quilômetro são privilégio dos grandes proprietários, que podem se endividar junto aos bancos. Substituídos por tratores, arados como o da foto que ilustra este post são cada vez mais raros. Tevês com antenas parabólicas mantém os colonos em contato com o mundo, por mais distantes que estejam das cidades. Em cada povoado as sociedades de canto, os clubes, os campos de futebol e as canchas de bocha garantem a diversão dos fins de semana.
São raros os empregados - todo o trabalho da propriedade é dividido entre os familiares. Há pobres, mas quase não se vê miseráveis.
Os pequenos municípios do sul do país, produtores de frutas como a uva e o morango, de fumo e de derivados de leite, estão entre os primeiros nos indicadores de qualidade de vida. Os índices de analfabetismo nas regiões de colonização alemã e italiana são próximos a zero, e a longevidade dos moradores é semelhante à da Itália e da Alemanha de onde vieram os seus antepassados. 

Não dá vontade de ser colono?







Um casal de camponeses, frontes abaixadas, depois de um dia de trabalho.
Ao fundo, uma igrejinha e as badaladas do sino. 
É a hora da Ave-Maria, este momento mágico entre o dia e a noite. 
Angelus, de Jean-François Millet, (1859) é uma das pinturas mais reproduzidas e conhecidas do mundo. 
Está exposta no Museu D'Orsay, em Paris.



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