quinta-feira, 4 de novembro de 2010

DITADURA DA MODA


Para os homens, tudo é muito simples. Além de não terem que se submeter a torturas medievais como depilações e cortes de cutículas, passam ao largo da cruel ditadura da moda: cueca samba-canção ou sunga? Sapato preto de bico fino ou sapatênis? Jeans tradicional ou calça cargo? Tem tudo para todos os gostos e preços. Se o shortão comprado no verão passado ainda está inteiro, por que comprar outro?
Já as mulheres, tadinhas das mulheres!
Queiram ou não, gostem ou não, acabam se dobrando ao que determinam os estilistas. Pior: algumas das "tendências" atravessam os anos. As calças jeans com cintura pouco acima do púbis, por exemplo, encurtam as pernas e alongam o tronco, passando um visual estranho. São bonitas em adolescentes magrinhas, longilíneas, mas expoem ao ridículo todas as demais mulheres - as que têm cintura, uma barriguinha, quadris e aquelas curvas tão apreciadas pelos homens. Para muitas, o jeito é - como dizem os repórteres de tevê - andar de legging com um camisetão por cima e tênis. Horrívelmente feio.
Nesta estação, a "tendência" são os enormes óculos de sol tipo JO, usados por Jaqueline Kennedy/Onassis nos anos 60. Eles ficam bem em mulheres altas, de rostos grandes, angulosos, uma minoria no Brasil de morenas com estatura mediana e rostos finos. Baixas, magras, adolescentes ou maduras, todas as que usam os JO ficam parecidas, com lentes imensas tapando o rosto. Nas vitrines e até nas bancas de camelôs é inútil procurar um modelo adequado ao tipo físico de cada uma.
As bolsas femininas são cada vez maiores e pesadas, certamente para desestabilizar qualquer tentativa de caminhar elegantemente e, quem sabe, atrair olhares masculinos. Menos mal que a moda dos sapatos de sola pata de elefante, em que as coitadas mal conseguem se equilibrar, está passando.
Mesmo sem ser chegado em teorias conspiratórias, arrisco um palpite: nas últimas décadas está havendo uma articulação mundial para enfeiar as mulheres, deixá-las deselegantes, desglamurizadas, masculinizadas - Nelson Rodrigues já falava nisso em suas crônicas, no final dos anos 60. É só olhar os desfiles de moda: as modelos - sempre magérrimas, tristes - vestem modelitos grotescos, non sense, apreciados apenas por quem não gosta de mulher.
Gurias, vou dar uma sugestão: rebelem-se!
Não sejam vítimas da moda. Rejeitem roupas ou adereços que não favoreçam o tipo físico de vocês. Procurem até achar o que fique bonito, ou simplesmente não comprem.
Os homens agradecerão, e aplaudirão de pé.


2 comentários:

Ana Manssour disse...

Clóvis,

concordo em gênero, número e grau. Inclusive, sou uma das que recentemente aderiu às calças legging com camisetão, que é o que tenho usado além de apenas duas calças jeans que ficam "melhorzinhas" no corpo. Até fiz um pequeno rancho de camisetões outro dia! Mas, agora que disseste que ficamos "horríveis" vou repensar. rs

Se bem que, na verdade, tem um ponto importantíssimo para nós mulheres, que já passamos dos 40 e nos encaixamos no que chamam de "mulheres maduras": mais do que nunca, e por termos vivido na pele, sabemos que "conforto, praticidade e liberdade de movimentos são fundamentais" e essas são as principais razões pelas quais passamos a usar as leggings com tênis e camisetões. As roupas mais sociais, que apertam, marcam, sobem, descem, reduzem a mobilidade, e os calçados que atrofiam os músculos e tendões das pernas e pés deixamos para situações de trabalho ou eventos mais formais. E atualmente - perdoem-me os estilistas e os homens em geral -, as mulheres maduras não estão mais dando muita bola para o que "os outros" pensam quando o que pensam não é a favor desse conforto, praticidade e liberdade de movimentos, do direito de todo ser humano, e especialmente das mulheres, de não se submeterem a convenções culturais obsoletas e restritivas que não têm mais razão de ser no século 21.

Sabemos o que já vivemos, sabemos o que queremos, e principalmente sabemos o que não queremos. Profissionais da moda que quiserem ganhar dinheiro conosco vão ter que dar atenção aos nossos "quereres", porque beleza é, sim, importante, desde que não seja regra excludente de conforto praticidade e liberdade. Talvez seja mesmo difícil elaborar novas criações levando essas três exigências em consideração, talvez seja por isso que a moda, atualmente, é feita apenas para modelos altas, magérrimas e de rostos tristes... E talvez seja por dispensarmos os modelitos que nós, mulheres experientes, de diferentes tipos de corpos, não tão altas, nem tão magras tenhamos rostos e corpos alegres!

Clovis Heberle disse...

Prezada Ana,
teu comentário é um complemento importante para o meu "manifesto". Sou totalmente a favor do conforto. Acho que aqueles sapatos de saltos altíssimos e os de bico fino deveriam ser proibidos pelo Ministério da Saúde, pois danificam os pés e a coluna. Não tenho nada contra as leggins para caminhadas e no dia-a-dia. Mas quando eu vejo, no shopping, mais da metade do mulherio uniformizado, fico achando que é mesmo falta de outras opções. Onde estão os vestidos, as saias, as blusinhas transadas,as calças de cintura normal, as roupas coloridas?