terça-feira, 6 de março de 2012

OS SHOWS DA MINHA VIDA




Show do tenor italiano Andrea Bocelli,  noAllianz Parque, de São Paulo, no feriado de 12 de outubro de 2016. Meio ano antes os ingressos para o show já estavam todos vendidos. Vieram fãs de todo país, a maioria com mais de 50 anos. 


Como em todos os eventos em estádios, neste também teve muita gente chegando atrasada, cadeiras tiveram que ser arranjadas às pressas para acomodar os que ficaram sem lugar. 
Como  num jogo de futebol, a ansiedade pelo início do show era visível em todos os rostos.




Três telões colocados sobre o palco permitiam uma visão do palco aos que estavam no meio do campo e nas arquibancadas. 








Bocelli cantou alguns trechos de óperas, algumas árias e músicas de filmes. Ao fim de cada uma delas, aplausos e gritos. 
Foi uma celebração à boa música e ao talento de um homem que, com sua voz, encanta a milhões de pessoas em todo o mundo.




Quando Anitta foi anunciada pelo maestro, houve algumas vaias.  
Mas ela cantou bem e foi aplaudida no final.






Uma noite inesquecível. 
Um dos shows da minha vida.

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Fim de uma tarde de sábado  em Paraty. Escolho uma mesa de calçada no tradicionalíssimo bar Coupê, no centro da cidade, e peço uma pinga da terra. Antes de beber o primeiro gole, ouço o som de um piano e uma voz conhecida, vindos da praça em frente.  Parecia Guilherme Arantes. Levantei para conferir e vi Guilherme, num pequeno palco, cantando acompanhado apenas de seu órgão eletrônico. Me juntei aos turistas e moradores para assistir, de surpresa e de graça,  a um show lindo, emocionante.
Confesso que nunca havia prestado muita atenção na obra do compositor, cantor e instrumentista, autor, entre outros sucessos, de Lindo Balão Azul ( do programa Balão Mágico, da Rede Globo) e Aprendendo a Jogar (imortalizado por Ellis Regina). Alí, sentado na praça, me dei conta de que só por duas músicas - Planeta Água e Amanhã -, Guilherme Arantes merece estar entre os melhores músicos brasileiros. Fiquei fã.
http://www.youtube.com/watch?v=oPwnAq2xMUg

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Viajando na memória: aos 14 anos, recém chegado a Porto Alegre, sou um dos 4.500 espectadores do espetáculo de inauguração do Auditório Araújo Vianna, no parque da Redenção, no dia 12 de março de 1964.  Extasiado, curti a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre  executar a Sinfonia 1812, de Tchaikowski, com direito a salvas de canhão. Foi o meu primeiro megashow.
 No anos 70/80, o "araújo" teve o seu auge. Os maiores ídolos da música popular brasileira se apresentaram no auditório ao ar livre, agitando as noites da primavera ao outono. Gilberto Gil teve o privilégio de cantar "Lua, lua, lua, luáááá" sob a luz da lua cheia, todo mundo olhando para ela, num silêncio absoluto e respeitoso. Caetano Veloso, calças bufantes vermelhas brilhantes, teve que interromper uma música porque um rapaz gritava, de uma das entradas, "Caetaaaaaaano, deixa eu entrar, gastei a grana da entrada em fumo." Problema resolvido, aplausos gerais, e mais um show maravilhoso numa noite quente de janeiro.

Mas se nos verões o auditório ao ar livre fervia, com shows a preços baixos, nas noites do outono à primavera a moçada de então lotava o Salão de Atos da Reitoria da Ufrgs, ali pertinho, e o Teatro da Ospa, na esquina da avenida Independência com a rua João Telles. Os dois eram acessíveis: quem morava no Centro, na Cidade Baixa e no Bom Fim podia ir a pé - naquela época não havia assaltos - e depois do espetáculo jantar ou beber com os amigos num dos tantos bares e restaurantes da área. No Salão de Atos vivi a rara emoção de assistir Athaualpa Yupanki, sozinho com seu violão. Anos depois, já com o salão reformado - por alguma razão, depois da reforma ele perdeu o seu encanto - fui transportado de volta para as montanhas da pré-cordilheira dos Andes, no norte argentino, por onde havia  andado na minha juventude, pelo genial compositor e intérprete Ariel Ramirez e sua Misa Criolla. Ramirez trouxe, além dos músicos, um coral de crianças. Não consegui conter as lágrimas, do primeiro ao último acorde.

O teatro da OSPA, um prédio inacabado que acabou demolido para dar lugar a um moderníssimo edifício de escritórios, era ponto obrigatório nos anos 60-70-80. Começando pelos concertos da orquestra, às terças-feiras. Tinha de tudo: peças de teatro, como Hair, e a maioria dos cantores e bandas que se apresentavam na cidade, como Sivuca, O mago albino do acordeão,  em noite inspiradíssima, fez a platéia entrar no clima de forró e, em delírio, dançar atrás dele pelos corredores do teatro. 
Foi lá que tive o privilégio de ouvir Leonardo Ribeiro, cantor, compositor e instrumentista gaúcho que morava na Europa mas passava uma temporada em Porto Alegre. Leonardo juntou músicos de primeiríssima como Geraldo Flach, o percussionista Fernando do Ó, Jorginho do Trumpete,  Perico Arteche e Sérgio Karam e gravou com eles um disco excelente. 


A foto da capa é de Assis Hoffmann e o texto de apresentação do CD 
de Juarez Fonseca. 

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Uma das poucas homenagens de Porto Alegre à maior cantora brasileira, o Porto de Ellis era um misto de  bar e casa de espetáculos, localizado entre a churrascaria Barranco e o bar Caverna do Ratão, na avenida Protásio Alves, em Petrópolis. Foi lá, numa noite gélida de julho, que Luiz Melodia, um dos melhores cantores brasileiros, mostrou seu enorme talento. Mas não foi fácil . Para suportar o frio, entornava doses e doses de algo que parecia ser conhaque. Apesar disso - e quem sabe por isso - cantou maravilhosamente bem.

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Fazia muito calor naquela noite de dezembro no Rio. Alceu Valença, pernambucano de Olinda, esbanjava energia, alegria e talento, saltitando ao ritmo de forrós, frevos e baiões sobre o palco montado na ilha dos Caiçaras, na lagoa Rodrigo de Freitas, sede do sofisticado clube dos Caiçaras.`Para encerrar um show de tantas luzes e brilho, fogos de artifício iluminaram o céu e coloriram as águas da lagoa.

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Montserrat Caballé, soprano catalã, cantora lírica consagrada na Europa e nos Estados Unidos, tornou-se uma pop star conhecida em todo mundo depois de  gravar o disco Barcelona com Freddie Mercury, em 1988, e com ele fazer várias turnês, levando o público ao delírio com músicas como  How Can I Go On: http://www.youtube.com/watch?v=qbUo0wdEd4k.
 Na noite de 28 de março de 1998, um sábado, ela se apresentou com a filha Monsita, também cantora, na praia do Laranjal, em Pelotas, acompanhada pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Três dias depois cantou no  Teatro Municipal de São Paulo. Foram suas únicas apresentações no Brasil. Veio gente de todo o Rio Grande do Sul. 



Senhoras vestidas com trajes de noite, sapatos de salto alto, encararam a areia grossa da beira da lagoa dos Patos para chegar até os seus lugares na arquibancada. Valeu a pena, com certeza. Foi um show magnífico, à altura da grande díva.



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Impossível haver um lugar mais adequado para Mercedes Sosa soltar sua voz, acompanhada pelo inseparável bombo leguero, do que o Memorial da América Latina, conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer  no bairro Barra Funda, em São Paulo, para realizar o sonho de  Darcy Ribeiro de  um centro cultural com o objetivo de aproximar os povos latino-americanos.


La Negra estava no auge de sua carreira, e levou ao delírio o público que lotou o auditório. Realizado no dia 14 de julho de 1989, quatro meses depois da inauguração do Memorial, o espetáculo foi um dos mais importantes de seus 23 anos de atividades.




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Até aqueles que não são fãs de Roberto Carlos deveriam ir a um de seus shows. Não é à toa que ele é chamado de Rei. Canta maravilhosamente bem e é perfeccionista quanto à`qualidade do som, os arranjos e todos os detalhes da apresentação. Os músicos que o acompanham - alguns há décadas - são excelentes. Não há como não sair encantado. Melhor ainda se o show for no Rio de Janeiro, e no Canecão, com direito a uma mesa com bebidas e canapés.





O Canecão era uma cervejaria quando foi inaugurado, em 1967, no bairro Botafogo. Para animar os seus frequentadores, que nos fins de semana chegavam a mais de quatro mil, foi contratada uma bandinha.  Em pouco tempo o palco passou a ser ocupado pelos mais importantes intérpretes de música popular brasileira, de Maysa a Marisa Monte, de Chico Buarque a Nei Matogrosso. Ronaldo Bôscoli criou uma frase que o marcou definitivamente: "Nesta casa se escreve a história da Música Popular Brasileira."

 Foi fechado em maio de 2010, depois de 40 anos de disputa judicial entre seus donos e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, proprietária do terreno. A foto acima é de 2011, já sem a logomarca na fachada.

  

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     Para ver - e principalmente ouvir - outro rei, fiz  uma gauchada: embarquei  para o Rio num sábado à tarde, curti o show à noite e no domingo estava de volta a Porto Alegre. 
B.B.  King, o Rei do Blues, se apresentou  em 2006  debaixo de um enorme toldo armado na Marina da Glória.


 Em vez de poltronas ou arquibancadas, mesas e cadeiras, todo mundo sentado, bebendo chôpe em copos de plástico. Foi um delírio. Aquela era a Farewell Tour, a última turnê, mas o bluesman gostou tanto do clima que voltou ao Rio em 2010, já com 84 anos de idade, para outra apresentação. 


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 Nas últimas três décadas, Porto Alegre foi incluída no roteiro das turnês dos maiores ídolos da música popular de todos os tempos. Eric Clapton foi um deles. Estive a poucos metros do deus da guitarra, em 2001, no Estádio Olímpico do Grêmio, em Porto Alegre. De pé, no gramado, jovens de várias gerações dançaram e cantaram, encantados. Saí do estádio flutuando.
    Voltei ao Olímpico um ano depois para  conferir The Wall, com  Roger Waters. Mas desta vez num camarote, a convite de uma cervejaria, com direito a tapete vermelho, bebidas e bufê de salgados. Fã do Pink Floyd desde os seus primeiros álbuns, lá nos anos 70, apreciar uma apresentação apoteótica, com recursos tecnológicos nunca vistos,  da banda liderada por Waters foi uma experiência fantástica.  
    Estes foram os shows da minha vida, até agora. Se pudesse, teria ido a Nashville para ver Neil Young em Heart of Gold, ao Carnegie Hall de Nova Iorque me emocionar com Frank Sinatra, a Londres viajar ao som do sitar de Ravi Shankar, a Buenos Aires vibrar com Fito Paes e/ou Charly Garcia. 
Mas Zé Ramalho em Recife, Dominguinhos em João Pessoa, Nei Lisboa, Borghetinho ou a velha e boa OSPA em Porto Alegre já me fazem feliz.


"Quem gosta de música tem vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão".

 Artur da Távola







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