terça-feira, 10 de setembro de 2013

QUEM NÃO PERGUNTA SE TRUMBICA


Saber perguntar é um atributo indispensável a um bom repórter. Por melhor que seja o seu texto, maior que seja o conhecimento do assunto e a coragem de encarar desafios, é pelas perguntas, feitas no momento e na forma certa, que ele vai tirar dos entrevistados a matéria-prima para uma boa reportagem.
Não é por nada que Marília Gabriela tem dois programas de entrevistas, e em emissoras diferentes. Ela olha nos olhos do(a) convidado(a) e, sorrindo docemente, dispara as perguntas mais desconcertantes. Ele (ela) acaba dizendo o que não queria.
Um bom repórter desenvolve a sua própria  técnica de colocar o entrevistado contra a parede. A repórter Ana Maria Magalhães, a Ana Terra, que na década de 80 trabalhava da RBSTV (antes de migrar para São Paulo) era simples e direta. A ponto de um governador gaúcho da época mandar um recado para a direção da empresa: "por favor, não mandem aquela menina me entrevistar"... Não foi atendido, coitado.
Marques Leonam Borges da Cunha, um dos melhores repórteres de jornal do Rio Grande do Sul,  tinha outra estratégia. Começava falando no tempo, na saúde, e aos poucos ia cercando a sua presa. Quando dava o bote, ela já estava sem forças para reagir. Entregava o jogo.
Carlos Wagner, outro ícone da reportagem gaúcha, tem uma enorme facilidade de estabelecer laços de camaradagem com os seus entrevistados. Quando eles se dão conta,  disseram bem mais do que deviam.  Os dois repórteres sabem muito bem o que querem. Só esperam o momento e o jeito certo de perguntar.
Há também aqueles entrevistados tremendamente habilidosos na arte de escapar das armadilhas e virar o jogo a seu favor. O mestre deles foi Leonel Brizola. Cada entrevista acabava se tornando um show onde ele, e só ele, brilhava. Na tevê, no rádio ou no jornal, era impossível colocá-lo em contradições, fazê-lo escorregar nas cascas de banana. As coletivas acabavam invariavelmente com os jornalistas boquiabertos, ouvindo-o sem coragem de interromper as suas frases de efeito.
Mas nesses últimos tempos os repórteres têm facilitado a vida dos entrevistados. Políticos, empresários, advogados e bandidos têm dito o que querem, saído incólumes das mais absurdas situações. Recentemente o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, foi entrevistado por um grupo de jornalistas do Rio e de São Paulo num importante programa de uma emissora de televisão em rede nacional. Às voltas com problemas e denúncias de todo tipo, numa cidade conflituada, seria um prato cheio para bons entrevistadores. Mas o prefeito, completamente à vontade, tirou de letra todos os questionamentos. Chegou a se dar ao luxo de retrucar, ao fim de uma pergunta feita de forma confusa e tímida: "Mas o que é mesmo que o senhor quer saber?"
Estão fazendo falta bons entrevistadores entre os jovens jornalistas brasileiros.







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