domingo, 23 de dezembro de 2018

MORRO DO FERRABRÁS





Sabe aquele domingo de sol em que você está em Porto Alegre e não sabe onde ir?
Foi num domingo desses que conheci o Morro do Ferrabrás, em Sapiranga. Fica perto, apenas 60 quilômetros, e o visual lá de cima, a 779 metros de altura, é lindíssimo.
Todo morro é preservado, e se pode passar uma tarde junto à natureza, vendo a moçada da região saltar de paraglider e asa delta.
Só tem duas coisas: a estrada até o alto do morro é de chão batido. Ou se sobe a pé ou num carro razoável. E lá em cima não tem bar, nem quiosque, nem banheiro (fique à vontade para usar uma árvore...).
Antes de se tornar conhecido pela sua rampa de vôo livre, na década de 70, o Ferrabrás era citado apenas nos livros de história. Foi lá que viviam os Mucker (falsos religiosos, em alemão), comunidade de filhos e netos de imigrantes alemães. Eles acreditavam que Jacobina Metz Maurer tinha poderes mediúnicos para curar, e seu marido João Jorge Maurer se tornou um líder religioso.
Os mucker acabaram se isolando dos demais colonos, com sua religião própria. Rejeitaram até o ensino oficial, encarregando-se eles próprios da educação dos filhos.
Hostilizados, reagiram às tentativas de prisão de seus líderes e depois de um ano de escaramuças com as forças policiais, entre 1873 e 1874, acabaram todos mortos - entre eles João e Jacobina) - ou presos. Oficialmente viviam no Ferrabrás 274 mucker, mas o total de seguidores chegou a quase mil.
Houve baixas também entre os militares. A mais importante delas foi Genuíno Sampaio, o coronel Genuíno,que virou nome de uma rua do centro de Porto Alegre.





Esta foto é do site da prefeitura municipal de Sapiranga

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

UMA RUA EM PORTO ALEGRE



Rua Caçapava, em frente à praça Almirante Tamandaré, bairro Petrópolis. 
Sombra de paineiras.  Perto de tudo - supermercado, restaurantes, barbearias, estéticas, ferragens, fruteiras, bancos.


Prédios baixos, a maioria  dos anos 1950


Na praça, lazer, descanso e um campo de futebol


sábado, 15 de dezembro de 2018

O ÚLTIMO VOO DA TRANSBRASIL






Havia algo diferente no aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, naquela tarde de 3 de dezembro de 2001 quando fui até o balcão da Transbrasil para fazer o check in. A fila era grande, e quando chegou a minha vez um funcionário constrangido explicou que os computadores da empresa haviam sido desligados. Recebi um cartão de embarque preenchido à mão.
O voo até o Rio de Janeiro foi normal, com exceção do serviço de bordo, que não apareceu - naquela época eram servidos almoços, jantares e lanches, mesmo nas rotas domésticas.
No dia seguinte fui marcar o voo de volta, na loja de Ipanema. Estava fechada. Por falta de combustível ( e de dinheiro ou crédito para comprar) nenhum avião da Transbrasil decolou. 
Foi o fim de uma das mais simpáticas e arrojadas empresas aéreas do país.







Em 1955, Attilio Fontana, gaúcho de Santa Maria que se mudou para Concórdia e lá comprou um frigorífico que denominou de Sadia, arrendou um avião DC3 para transportar seus produtos para São Paulo. Seu filho Omar sugeriu ao pai criar a sua própria empresa, e assim surgiu a Sadia Transportes Aéreos. Em 16 de março de 1956 o único avião da empresa, um DC3 , decolou de São Paulo para sua primeira viagem. 
Omar, entusiasta da aviação, foi nomeado presidente e desde então se dedicou completamente à empresa. Com as péssimas estradas da época, levar os produtos de avião se revelou um excelente negócio. Logo outros dois DC3, heróis da Segunda Guerra Mundial, foram incorporados à frota, e também um Curtiss. 
Transportar passageiros foi uma evolução lógica, e um ano depois a Sadia já ligava Concórdia e demais cidades do oeste catarinense onde houvesse um campo de pouso - Joaçaba, Chpecó, Videira - a Porto Alegre, Florianópolis e São Paulo.




O transporte de passageiros exigia aviões mais modernos, rápidos e confortáveis. Aviões Dart Herald, turboélices, passaram a operar nas rotas regionais, e os BAC One Eleven, de duas turbinas na traseira, as capitais.  Em 1972 a marca Sadia, conhecida pelos derivados de aves e porcos, foi mudada para Transbrasil, e a sede da empresa mudada para Brasília. 



Para marcar a nova fase da empresa, os aviões Boeing 727, apelidados de Jatões, receberam  pinturas de cores fortes, muito diferentes dos aviões das concorrentes Varig, Cruzeiro e Vasp, que mantinham o design tradicional de branco e azul. A Transbrasil  cresceu rapidamente e se tornou símbolo de empresa moderna, simpática. 
Era a primeira a comprar ou arrendar os novos modelos de aviões da Boeing. Com o pulso firme de seu presidente, ampliou a sua malha no Brasil e conseguiu a concessão de rotas internacionais - Miami, Nova York, Washington, Viena, Buenos Aires.
Com as sucessivas crises econômicas do pais, a empresa perdeu o fôlego financeiro. Começou a devolver aeronaves arrendadas, cancela encomendas. 
Omar Fontana morreu em dezembro de 2000, de câncer de próstata, em São Paulo, um ano antes do último vôo de seus aviões. 




sábado, 8 de dezembro de 2018

MARÉ ALTA




sábado, 1 de dezembro de 2018

O QUE O JIPE E O FUSCA TÊM EM COMUM?

 Resistentes, com preços acessíveis, mecânica simples,  os dois estão entre os mais extraordinários veículos do século XX. O que mais o fusca e o jipe têm em comum? Ambos foram projetados e fabricados por decisão dos governos dos seus países de origem - a Alemanha e os Estados Unidos - , e depois fizeram sucesso  em todo mundo.



O fusca foi idealizado em 1933 pelo ditador alemão Adolf  Hitler. Ele queria um carrinho de preço acessível,  econômico, resistente, que acomodasse a família alemã média da década de 1930 - dois adultos e três crianças. Tinha que atingir uma velocidade de 100 km/h e ter motor refrigerado a ar, para que a água não estourasse o radiador quando congelasse com frio abaixo de zero grau.
Numa época em que muitos carros ainda eram parecidos a carruagens, com carrocerias de madeira, era um desafio e tanto. O projetista Ferdinand Porsche apresentou o modelo que mais se aproximava ao que Hitler, um apaixonado por carros, queria. 
Revolucionário para a época, com sua forma de besouro moldada em aço e motor traseiro transversal refrigerado a ar, o fusca sofreu muitos aperfeiçoamentos até que os primeiros protótipos começaram a fase de testes, quatro anos depois. Soldados da SS rodaram com eles milhares de quilômetros pelas estradas alemãs e os defeitos que apareceram foram solucionados. A produção começou em 1938, e só terminou em 2003, quando a montadora do México fechou. Foi o carro mais vendido da história.
No Brasil, a produção do fusca também teve o dedo do governo. Foi por vontade política do presidente Juscelino Kubitcheck, que apostou no apoio à indústria automobilística e na construção de rodovias para o desenvolvimento do país, que a Volkswagen instalou uma fábrica em São Paulo, em 1959, e se tornou  a líder em vendas no país. Nas décadas de 60 e 70 o fusca reinou praticamente sem rivais.  Tinha preços acessíveis, era econômico e resistente. Encarava tanto estradas asfaltadas quanto de terra. Qualquer família de classe média podia ter o seu carrinho usado.
Foi só na década de 80 que a Fiat, com seu Mille (depois de corrigir defeitos que arranharam a sua imagem), a GM com o Chevette (projetado pela sua subsidiária Opel, alemã, de onde veio também a linha Opala e depois Corsa e Astra) e a Ford, com o Corcel, passaram a dividir o mercado. A VW interrompeu a produção em 1986 depois de lançar o Gol (os primeiros modelos, com motor a ar, também tiveram que ser aperfeiçoados). Em 1993 o presidente Itamar Franco (de novo o governo...) pediu à Volkswagen que relançasse o fusca, mas a experiência durou apenas três anos. Ele já não competia, em preço, conforto e segurança com os concorrentes.



O Jipe ( Jeep) também foi projetado por exigência de um governo. Em 1939 a Alemanha iniciou a Segunda Guerra Mundial, e 1940 o exército dos Estados Unidos decidiu lançar uma concorrência para a construção de um veículo leve de transporte para quatro soldados, com tração nas quatro rodas, motor potente e mobilidade em qualquer terreno. 
A Willys foi a vencedora, mas os engenheiros do exército incorporaram alguns detalhes do protótipo de Ford. As duas fábricas foram contratadas para produzirem a enorme quantidade de veículos que a guerra exigia.  
O modelo foi um enorme sucesso na guerra, e depois dela a Willys conseguiu na Justiça o direito de produção exclusiva. Exportou principalmente para países do terceiro mundo. Na década de 1950 parou a sua linha de produção nos Estados Unidos, pois os jipes já não tinham mais serventia nas autoestradas norte-americanas. 
A fábrica foi trazida para o Brasil, e começou a produzir em 1952.  Os jipes Willys, e depois a caminhonete Rural Willys, fizeram um grande sucesso, especialmente nas regiões onde as estradas eram precárias ou não existiam. A montadora aproveitou a plataforma do jipe para produzir também o Aero Willys, com linhas suaves, apesar da rusticidade da mecânica e da suspensão. Mais tarde o carro foi reestilizado. Com suas linhas retas, parecia com um tanque de guerra. 
A Ford comprou a Willys em 1967 e até 1986 continuou produzindo o jipe, a Rural e o Aero Willys.  Também aproveitou a plataforma do jipe para lançar um carrinho que fez muito sucesso, o Corcel. Muito feio, mas bem confortável, resistente e econômico. Alguns ainda rodam por aí. 
Fusca e jipe. Duas histórias de sucesso. Com o dedo dos governos. 




Meu primeiro carro foi este fusca azul "calcinha" 1974.
Um bom companheiro de aventuras. 




terça-feira, 20 de novembro de 2018

BATE-PAPO



quinta-feira, 15 de novembro de 2018

É DURO SER TELEMARQUETEIRO



- Alô? É o senhor Clovis erbéle?
- Sim, é ele.
-Bom dia, senhor Clovis. Aqui é a Hernanda, do Banco Juros Mil. Estou ligando para lhe comunicar que liberamos para o senhor um cartão de crédito com limite de 25 mil reais.
- Muito obrigado, senhorita. Já tenho um e pago uma banana de juros. Sou um velho aposentado do INSS e não posso ter outro cartão. 
- Mas...
- Bom dia e bom trabalho. 
Eu sou um cara bem educado, raramente maltrato os chatos do telemarketing. Sou até solidário com eles, coitados. O que devem ouvir de desaforos! Comparo o trabalho deles com os dos operários da construção civil que encaram 50 graus ao sol na Arábia Saudita ou 20 abaixo de zero na Suécia. 
Depois que os presidiários passaram a usar os seus celulares (que sempre têm sinal) e o tempo de sobra (todo o dia e a noite) para extorquirem e ludibriarem incautos por todo o país ( sim, também quase caí numa dessas), fazer negócios por telefone com alguém que você não conhece é mais que ingenuidade, é burrice, mesmo. 
Mas nem todos têm a mesma paciência que eu. E tem até os que se divertem com os telemarqueteiros.
Uma amiga, um dia desses, recebeu uma ligação de uma moça que disse ser do City Bank. Deu corda para a pobrezinha, até a hora em que ela pediu o endereço para enviar um "consultor" e abrir a conta. 
- Anota aí: rua que sobe e desce, número que desaparece. 
Antes de desligar, a moça ainda disse "aaahhhhh..."




segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A MISSA DAS DEZ





Durante alguns anos, na minha adolescência, morei com os meus avós maternos Theobaldo e Lúcia Weiler na rua Felizardo Furtado, em Petrópolis. Uma das minhas "obrigações" era, todos os domingos, acompanhar o vovô à missa das 10, na Igreja São Sebastião, na avenida Protásio Alves, a três quadras de distância. 
Ele era muito religioso. Rezava o terço todas as manhãs (ele dizia a primeira parte da Ave-Maria, a vó a segunda, enquanto lavava a louça do café).
Lá pelas tantas da missa, num momento em que a igreja estava em silêncio, ele levantava e bradava com seu vozeirão de barítono (que herdei...) e o sotaque alemão:
"Agorrra vamos cantaaarrr o canto número 18". E mandava ver.
Nestes momentos eu teria preferido sumir debaixo dos bancos, morto de vergonha. Mas, o que fazer, acabava cantando junto.




Fiéis chegando para a missa das de na igreja São Sebastiãoz


sábado, 10 de novembro de 2018

TU VISTES?

O português é uma língua complicada. Fica ainda mais difícil escrever corretamente devido às mudanças impostas pela Academia Brasileira de Letras - na última, tirou o trema de palavras como linguiça e o acento em ideia.
Nem profissionais da palavra, como os jornalistas, deixam de cometer erros, especialmente quando se trata da crase.Nos tempos do jornal Zero Hora, fui encarregado de coordenar o projeto Erro Zero: uma equipe de revisores esquadrinhava o jornal, da primeira à última página, e marcava os erros. As editorias com menor número de erros eram elogiadas, e as com o maior número de páginas "coloridas" pelas canetas dos revisores chamavam os repórteres com maiores dificuldades para uma reciclagem.
Mas o que mais me impressiona é um erro recorrente, cometido até por pessoas que escrevem e falam corretamente: o uso da segunda pessoa do plural (vós) em vez da segunda do singular (tu).
"Tu fostes", "tu vistes", "tu chegastes", quando a conjugação correta é tu foste, tu viste, tu chegaste. Ou "vós fostes", na segunda pessoa do plural, o que rarissimamente se usa.
Brasileiros de outros estados resolvem facilmente o assunto usando você em vez de tu. "Você foi", "você viu".
Para terminar, uma historinha que pode até ser verdadeira: incomodado com o enorme número de erros nas placas de sua cidade do interior de Minas Gerais, o prefeito, um advogado, decidiu dar prêmios aos estabelecimentos com placas corretas. Só foi encontrada uma: "Águia de Ouro".
Ao receber o prêmio, o dono, um alfaiate esclareceu:

 "Não é águia de ouro, doutor, é aguia (agulha) de ouro...

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

DA MINHA JANELA



segunda-feira, 5 de novembro de 2018

WALL PAPER






domingo, 28 de outubro de 2018

CENA ROMÂNTICA



Quando se imagina uma cena romântica, logo vem  à mente imagens de jovens apaixonados numa paisagem paradisíaca. Mas ver um casal de idosos caminar de mãos dadas, passo ajustado, um apoiando o outro, é comovente.
Quantas borrascas devem ter passado juntos ao longo de sua vida em comum? Quantas ilusões perdidas, doenças, desespero por situações difíceis? 
E continuam assim, mãos dadas. 
Lindo!

sábado, 27 de outubro de 2018

SOZINHO NA IGREJA



Naquela tarde eu viajaria a Miami para participar, como representante do jornal Zero \Hora, de uma reunião de editores do GDA, Grupo de Diarios America, uma associação dos maiores jornais da América Latina. Estava me sentindo inseguro, tenso. Temia não estar preparado para um evento dessa importância. 
De manhã, a caminho do jornal, passei pela frente da igreja Santa Teresinha, na rua José Bonifácio, e entrei. Sentei num banco e fiquei lá por alguns minutos, sozinho, em silêncio total. Aos poucos uma sensação de paz e tranquilidade foi tomando conta de mim. Saí de lá relaxado e confiante. 
Desde então tenho o costume de, sempre que possível, e especialmente quando algo me angustia ou preocupa, buscar refúgio num templo. Ficar lá sem pensar em nada de especial. 
É muito bom.




Igreja Nossa Senhora das Dores, a mais antiga de Porto Alegre. Uma viagem no tempo.



Igreja de São Sebastião, no bairro Petrópolis, Porto Alegre. 




sábado, 20 de outubro de 2018

terça-feira, 9 de outubro de 2018

JOÃO BORGES DE SOUZA



Nenhuma lista dos mais importantes jornalistas do Rio Grande do Sul estará completa sem o nome de João Borges de Souza. 
Além disto ele é um ser humano admirável pela sua coerência, compaixão, companheirismo, honestidade, retidão de caráter.
E o João é um dos meus melhores amigos. 
Me sinto orgulhoso disso.

AS FLORES DO MEU BAIRRO






















Primavera nas ruas do bairro Petrópolis, Porto Alegre RS


segunda-feira, 8 de outubro de 2018

domingo, 30 de setembro de 2018

CRIANÇAS ADULTAS




sábado, 22 de setembro de 2018

SURREAL



sexta-feira, 21 de setembro de 2018

CAMPO GRANDE

CAPITAL COM ARES DE INTERIOR



Até 1977, quando foi escolhida para capital do recém criado estado de Mato Grosso do Sul, Campo Grande tinha 180 mil habitantes. Em menos de 40 anos, sua população pulou para quase 900 mil. Gaúchos, goianos, mineiros, paranaenses, paulistas, paraguaios e bolivianos, entre outros migrantes, mudaram rapidamente  a fisionomia da cidade. Com avenidas largas, parques enormes, moderna e arborizada, Campo Grande tem a sua paisagem recortada por centenas de edifícios recém construídos. Mas é em casas, quase todas com árvores no quintal, que vive a grande maioria dos moradores. 
Situada no centro geográfico do estado,  a meio caminho dos rios Paraná (divisa com São Paulo) e Paraguai (fronteira com o Paraguai), a cidade tem clima de cerrado - seis meses secos, outros seis chuvosos. Em seu aeroporto internacional chegam levas de turistas brasileiros e estrangeiros  ávidos por conhecerem o pantanal e sua joia mais preciosa: Bonito. 
A capital tem uma excelente infraestrutura para o turismo, com bons hotéis, restaurantes e shoppings. 
É uma cidade hospitaleira, jovem, vibrante, luminosa. 








D.PEDRO II PARA PRESIDENTE



O perfil ideal para presidente da República é o de Dom Pedro II: preparado para exercer o poder, austero nos gastos pessoais e públicos, tolerante com os adversários e com a imprensa, excelente administrador, culto, viajante incansável, curioso insaciável , avesso aos cerimoniais e um homem que colocou a paixão pelo Brasil e os brasileiros acima de tudo - até do seu trono. Esta é a imagem que fica do imperador do Brasil de 1840 até 1889 depois da leitura da biografia escrita por José Murilo de Carvalho e editada pela Companhia das Letras.




Para um país traumatizado por uma sucessão de governantes que colocaram seus interesses pessoais e político-partidários acima dos da nação, Pedro de Alcântara representou uma rara exceção. Só Getúlio Vargas conseguiu alcançar a mesma dimensão como estadista.
Aclamado imperador aos cinco anos de idade, após a abdicação de seu pai, que voltou para Portugal, Pedro II passou os dez anos seguintes aos cuidados de tutores que o educaram. Órfão de mãe com um ano de idade e de pai com nove, dedicou-se aos estudos e ao assumir o trono, aos 15 anos, já demonstrava surpreendente habilidade política ao montar um ministério em que mesclava a experiencia com a juventude, a prudência com a ousadia.
O país que herdara enfrentava rebeliões separatistas e problemas políticos, sociais e econômicos agravados por uma década de governos provisórios.
Em poucos anos, o jovem imperador pacificou a nação e organizou o governo. Sua forma de administrar é um exemplo para empresas que se dizem modernas mas que, no fundo, usam, quase sem exceção, a velha técnica do "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Como chefe de governo, reunia o ministério diariamente, ouvia os relatos dos ministros, trocava idéias com eles e, muitas vezes, acatava o ponto de vista da maioria. Definia as prioridades e deixava a execução dos projetos a cargo de cada ministro. Visitava obras, escolas e hospitais para conferir se suas diretrizes estavam sendo cumpridas.
Avesso a festas e beija-mãos, reduziu a um mínimo o seu quadro de servidores, e aplicava boa parte dos seus rendimentos em obras sociais. Sustentava cientistas e artistas com bolsas de estudos no país e no Exterior. Suas viagens aos Estados Unidos e à Europa foram custeadas com empréstimos bancários pessoais. A imprensa tinha total liberdade - para ele, os jornais eram as janelas por onde vislumbrava a realidade do país - mesmo quando o atacavam, e à sua família, da forma mais torpe. Era respeitado nos Estados Unidos e na Europa como estadista e como sábio.
Apeado do poder e expulso do país por um golpe liderado por militares, viveu modestamente, em hotéis europeus de segunda classe, até falecer, em 4 de dezembro de 1891, em Paris, aos 66 anos. Duzentas mil pessoas acompanharam o cortejo da igreja da Madeleine até a estação de trem. O corpo seguiu para Portugal, onde foi enterrado. No Brasil, manifestações espontâneas de pesar tomaram as ruas, apesar da hostilidade do governo republicano, que se recusou a decretar luto oficial e nem ao menos mandou representantes ao enterro.
Mas o livro não tem apenas os aspectos positivos da biografia de Dom Pedro II. Revela suas fraquezas, seus amores fora do casamento, a paixão pela condessa de Barral (que durou toda a vida), a condescendência para com a escravidão - à qual se opunha, mas não teve apoio político e coragem de extinguir -, e a sua postura impiedosa na guerra contra o Paraguai. Foi dele a decisão de massacrar o povo paraguaio até o quase extermínio, mesmo depois de Solano Lopez estar militarmente vencido.
Seus acertos, no entanto, superaram em muito os erros. E os governos que o sucederam, marcados pela politicagem, as ambições pessoais e a falta de patriotismo comprovaram a importância que os quase 49 anos do segundo reinado tiveram para o Brasil.
"O problema do Brasil não é a República nem a Monarquia. É a oligarquia absoluta".
Machado de Assis

terça-feira, 21 de agosto de 2018

DE VOLTA AO SÉCULO XIX?


















Uma rua, a dos Andradas, separa os prédios que simbolizaram duas eras no jornalismo gaúcho. Ambos ocupavam uma quadra inteira da rua Caldas Júnior, no centro de Porto Alegre.  O prédio da foto de cima era do jornal A Federação. Fundado  em 1884 e sustentado economicamente pelo Partido Republicano, chegou a ter, na década de 1910, uma tiragem de incríveis 10 mil exemplares.  A redação e as rotativas foram transferidas para a este belo prédio de estilo em 1922, quando foi inaugurado.
A Federação tinha excelentes redatores, os mais modernos equipamentos e era muito bem feito para os padrões da época. Mas, por ser partidário, não tinha credibilidade. Era sempre o porta-voz do partido que o sustentava, assim como dezenas de outros periódicos, criados e fechados ao sabor dos movimentos políticos.  Encerrou suas atividades em 1937, quando a ditadura Vargas extinguiu todos os partidos políticos da época. 











O Correio do Povo, fundado em 1895 por Francisco Antonio Vieira Caldas Júnior, anunciava na capa da primeira edição os seus princípios básicos: estava a serviço dos leitores e de toda a população, sem defender partidos políticos ou governos.  Por cumprir o que prometera, o jornal cresceu rapidamente e se tornou, na década de 1920, o mais importante diário do Rio Grande do Sul, posto que ocupou até a crise econômica que o abateu na década de 1980.
A isenção, a busca da verdade dos fatos, a independência econômica e editorial se tornaram, no século XX,  compromissos de todo o veículo de comunicação que se preze. 
E os jornalistas? 
Até a década de 1960, quando foram criados os primeiros cursos de jornalismo e intensificada a campanha para a regulamentação da profissão,  era normal o jornalista ter outra fonte de renda, quase sempre a principal.  O jornalismo era a "cachaça", onde ele extravasava seus dotes literários, vivia as aventuras da reportagem. 
Com a exigência do diploma para o exercício da profissão, o ensino de jornalismo em universidades e a preocupação das empresas em contratar profissionais de qualidade, esta situação mudou. A independência intelectual,  a ética e a dedicação exclusiva ao trabalho  passaram a ser exigências básicas para exercer a profissão. 
Nada contra um jornalista trabalhar numa assessoria de imprensa de uma empresa, de um governo, de um partido. Mas isto não é jornalismo. 
Nas últimas duas décadas, no entanto, a crise política e econômica que atinge o Brasil e o crescimento da mídia digital têm afetado de forma  cruel as empresas de comunicação.  Jornalistas têm sido despejados às centenas das redações. Sem emprego, partem para outras atividades, se sujeitam a salários bem menores e muitas vezes mudam de profissão para sobreviver.  O Judiciário, ao derrubar a exigência do curso de jornalismo para exercer a profissão, contribuiu para piorar a situação.
O jornalismo militante, em que profissionais e empresas escancaram suas preferências políticas e vêem os fatos sob o viés de suas ideologias,  é cada vez mais praticado.  Com poucos repórteres qualificados,  depois de tantos "passaralhos" para a contenção de custos, as empresas de comunicação se tornaram vítimas das  fake news, que  proliferam nas mídias sociais como ervas daninhas em solo empobrecido. 
Estaremos voltando para o o jornalismo que se fazia no século XIX?  







sexta-feira, 17 de agosto de 2018

ALEMÃO (E JAPONÊS) É TUDO IGUAL...


Durante algum tempo, depois que eu fui trabalhar no jornal Zero Hora, o presidente da empresa, Nelson Sirotsky,  me cumprimentava dizendo "oi, Hélvio".  Achava que eu era o editor Hélvio Schneider, que já trabalhava lá há alguns anos.  Temos a mesma idade,  mais ou menos a mesma altura,  e na época os dois éramos magros.  Acabou notando as diferenças entre nós, talvez por ter nos visto juntos.
Quando ando na rua, é comum me abanarem alegremente me chamando pelos mais variados nomes. Não faço ideia de quem seja, mas sempre sorrio e abano de volta, como se conhecesse. Fazer o que?
Às vezes, quando conheço alguém, vem a pergunta, como no caso da dona de uma geriatria de Mariluz:  "mas você não é o Odacir, lá de Bento?" 
Mesmo explicando que só estive em Bento Gonçalves uma vez na vida, a pessoa custa a acreditar. "Mas é igualzinho ao Odacir, um gringo lá da ferragem". 
Cheguei à conclusão de que alemão (e gringo) é tudo igual. Como japonês. Levo na esportiva. 
Só me incomodei um dia que uma senhora, dona de um mercado onde fui fazer compras, me cobrou uma dívida. "Pô, Sérgio, tu ficou de vir pagar em seguida e nunca mais!", vociferou. Mostrei a carteira de identidade, mas mesmo assim ela continuou desconfiada de que eu era o Sérgio, o sem vergonha que deixou uma conta pendurada e sumiu do mapa...



domingo, 12 de agosto de 2018

MARES BRAVIOS DO ATLÂNTICO SUL




Barra do rio Tramandaí, em Imbé/RS, açoitada pelo vento sudoeste com rajadas de até 90 km/h


quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O PASSADO DE PORTO ALEGRE



Com um pouco de imaginação dá para viajar no tempo até o século 19 e desfrutar, de uma dessas sacadas, do pôr de sol no rio Guaíba. Ou de um sarau em que o proprietário desse casarão da rua Riachuelo, o Conde Porto Alegre, recebia seus convidados vestidos a rigor. 

Patrimônio Histórico da capital gaúcha, o prédio, construído em 1830 e comprado pelo governo do Estado do RS em 1930, foi cedido para o Instituto dos Arquitetos do Brasil/RS para a sua restauração. A parte de trás, sede do Instituto, está pronta, mas a fachada continua se deteriorando, à espera de doações.










domingo, 1 de julho de 2018

QUEM PRECISA DE PSIQUIATRA?




"Tu tá achando que eu tou louco?", reagiu um colega de trabalho quando eu sugeri que ele fizesse terapia, se possível com médico psiquiatra. Se ele tivesse aceitado a sugestão certamente teria superado com muito menos sofrimento, os problemas pessoais e profissionais que vinha enfrentando.
Não que encarar um terapeuta seja fácil, especialmente para os homens. Falo por experiência própria. Na minha primeira "temporada", só consegui começar a falar de mim depois de uns seis meses de sessões semanais. Depois fui encarando com naturalidade os questionamentos do psiquiatra. 
Anos depois, nova temporada. Com a ajuda do médico - terapêutica e medicamentosa - consegui juntar os cacos  do que havia se tornado a minha vida. 
Uma sessão por semana era pouco, mas depois de um ano eu já havia conseguido me reorganizar. Até hoje, e já lá se vão 20 anos, continuo a rever o "meu" psiquiatra, e agora amigo, uma vez por mês.  Conversamos sobre viagens, política, vinhos, lembranças e, claro, os meus problemas, que, como os de todo mundo, não são poucos. 
Fico pensando o que teria acontecido comigo sem este apoio. Um profissional preparado, experiente,  pode, com a avaliação correta de uma situação,  fazer com que o paciente mude a rota de sua vida e evite a colisão, um desastre. 
Penso também em tantas pessoas que , com  terapia e/ou medicamentos, poderiam, e poderão,  ter uma vida melhor, muito melhor.